"É preciso controlar a imigração."



Há uma ideia que muitos — até pessoas bem-intencionadas — começam a repetir, sem nunca terem parado verdadeiramente para pensar nela:
"É preciso controlar a imigração."
É uma expressão que entrou na esfera pública como se fosse algo natural, como se fizesse sentido sequer.
Mas... já a dissecámos?
Já nos perguntámos o que realmente significa?
Por definição, um imigrante é alguém que veio para Portugal porque o país precisa do seu trabalho.
Vieram trabalhar, aceitaram salários baixos, enfrentam precariedade, habitação cara, processos legais intermináveis e, ainda assim, mantêm setores inteiros a funcionar — da agricultura aos cuidados de saúde.
Então, o que quer dizer "controlar" essas pessoas? Significa o quê, exactamente? Impedir que venham? Criar mais obstáculos? Tornar-lhes a vida ainda mais difícil?
Dizer, ao mesmo tempo, "precisamos do vosso trabalho", mas também "não queremos o vosso trabalho"?
Se calhar confundem "controlar a imigração" com “controlar a entrada de criminosos”.
Mas isso nada tem que ver com imigração: um criminoso pode entrar com um visto gold, trazer capital para investir e nenhuma intenção de contribuir para a sociedade.
Essa tentativa de transformar o imigrante num "problema que tem de ser gerido" é, por definição, uma manifestação de preconceito — uma forma de culpabilizar a vítima para que ninguém olhe para o opressor... provavelmente porque esse opressor é o mesmo que explora os trabalhadores portugueses.
O que precisa de ser controlado não são os imigrantes, mas sim:
-O sistema que os precariza.
- Os patrões que os contratam sem direitos.
- Os senhorios que cobram 400€ por um colchão partilhado.
- As redes de tráfico humano.
- Os entraves legais que mantêm estas pessoas na ilegalidade.
- E os discursos que fazem dos imigrantes bodes expiatórios, em nome de mais votos para os bilionários.
O imigrante mal pago e precário tem muito mais em comum com o trabalhador português explorado do que com os milionários que financiam discursos xenófobos ou que avençam políticos.
Por isso, sim, precisamos de políticas sérias, com conhecimento técnico e sensibilidade.
Mas precisamos, acima de tudo, de parar de cair na armadilha de tratar quem vem trabalhar com dignidade como uma ameaça.
A imigração não é o problema.
O problema é a exploração.
E esse, sim, precisa de controlo.


"TEMOS DE CONTROLAR A EXPLORAÇÃO."


Texto de Eduardo Maltez Silva, na sua página,Facebook

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